O bicho-mineiro
das folhas do cafeeiro, Leucoptera
coffeella (Lepidoptera: Lyonetiidae), é a principal praga do cafeeiro na
cafeicultura do cerrado mineiro (Alto Paranaíba, Triângulo Mineiro e noroeste
de Minas Gerais), já que o clima quente dessas regiões encurta o seu ciclo, que
varia de 19 a 87 dias. Assim, quanto menor for a duração do seu ciclo, mais
gerações ocorrerão num curto espaço de tempo, resultando em populações
altíssimas de adultos, lagartas e crisálidas, e um grande número de ovos nas
folhas (Fig. 1).
Figura 1 – Ciclo
biológico do bicho-mineiro
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O ataque do bicho-mineiro nos cafeeiros não causaria prejuízos
se as folhas minadas (Fig. 2) não caíssem e permanecessem nas plantas; acontece
que no período seco do ano, antes das floradas, no período de agosto a outubro,
os cafeeiros podem sofrer desfolha drástica, podendo ser até total (100%),
resultando em prejuízos de até 72% na produção de café, segundo resultados de
pesquisas desenvolvidas pela Epamig no município de Patrocínio, em 1998.
Outro
detalhe: nas regiões de clima quente, o bicho-mineiro ataca todos os anos, com
prejuízos, se não bem controlado, daí o alerta da Epamig aos cafeicultores
sobre a importância dessa praga. É uma praga que jamais será erradicada da
cafeicultura brasileira, daí a necessidade de os cafeicultores conhece-la em
todos os seus aspectos para controlá-la com eficiência.
Figura 2 – Folhas de
cafeeiro minadas pelas lagartas do bicho-mineiro
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Infestação do bicho-mineiro em 2017 e preparo da safra
de 2018
A
infestação do bicho-mineiro, nos meses iniciais de 2017, está praticamente
zerada, resultado da ocorrência do período chuvoso, com chuvas normais, adverso
à praga, e do novo enfolhamento emitido pelos cafeeiros a partir de novembro de
2016, que diluiu sua infestação. Outro detalhe: a safra de café de 2017 está
garantida, safra essa que foi preparada ano passado, em 2016. Sempre um ano
antes.
Como
prevenir a infestação do bicho-mineiro em 2017
Sabe-se que o
bicho-mineiro atacará as lavouras de café do cerrado mineiro em 2017, porém,
não se sabe o seu início, que poderá ser a partir de março/abril. É
imprevisível.
A partir de agora o cafeicultor
preparará os cafeeiros para a grande safra de café de 2018 (ano que vem). Como?
Preservando o enfolhamento atual dos cafeeiros até a época das floradas
(setembro/outubro), através do controle do bicho-mineiro, ferrugem e outras
doenças e da aplicação dos tratos culturais normais recomendados para a
cultura.
Como se inicia a infestação do
bicho-mineiro nas lavouras de café do cerrado mineiro, se a infestação atual
está zerada, sem adultos (Fig.3)? De onde virão? A infestação inicia-se pela
emergência de seus adultos, em grande número (nuvens de adultos), a partir de
crisálidas (dentro de casulos em forma de X) (Fig. 4), que estavam em diapausa
(vivas e viáveis), presentes na fase dorsal (de baixo) das folhas da metade
inferior dos cafeeiros, quando as condições climáticas e outras condições são
favoráveis para que isso ocorra. Daí não se poder precisar o mês de emergência
de adultos da praga. Em 2016, a emergência de adultos do bicho-mineiro ocorreu
no final do mês de março/início do mês de abril. A partir daí inicia-se o
primeiro ciclo dessa praga, com o acasalamento de machos e fêmeas e a postura
de ovos de maneira dispersa na página superior das folhas (Fig. 5).
Figura 3 – Adulto (mariposinha) do bicho-mineiro |
Figura 4 – Crisálidas
(casulos) de bicho-mineiro em forma da letra X
Figura 5 – Ovos típicos
de bicho-mineiro na página superior de folhas de cafeeiro
Após a fase
de ovo eclode (nasce) sua lagartinha, que penetra diretamente na folha, onde
começa a se alimentar e, consequentemente, a formar a mina ou lesão (Figs. 6 e
7). Depois, o ciclo vai se completando, com as fases de crisálida e adulta
(Fig. 1), inclusive com ciclos sobrepostos, já que as condições climáticas
(poucas chuvas e temperaturas altas) vão lhe favorecendo. Assim, a ocorrência
de poucas chuvas até junho e nenhuma chuva a partir daí, já no período seco,
com temperaturas altas, favorecem a multiplicação do inseto (Fig. 8).
Figura 6 – Minas
típicas e intactas de bicho-mineiro
mostrando os córions de ovos (cascas)
brilhantes
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Figura 7 – Minas de
bicho-mineiro, em folhas de cafeeiro, com lagartas em atividade
Figura 8 – Curva da
flutuação populacional de bicho-mineiro Leucoptera
coffeella
na região do Cerrado mineiro (Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro), de clima quente
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Portanto, na cafeicultura do cerrado
mineiro, o primeiro ciclo do bicho-mineiro tem que ser controlado com
eficiência, para evitar que outros ciclos aconteçam e que ele exploda durante o
ano. Daí ser o seu controle químico sempre preventivo (ainda sem a presença da
praga). Mesmo preventivo, seu controle tem sido difícil de ser realizado com
alta eficiência já que essa praga, provavelmente adquiriu resistência à maioria
dos inseticidas antes utilizados, restando poucas opções. Em 2016, devido às
altas temperaturas e menor ocorrência de chuvas, seu controle químico foi muito
difícil, inclusive com baixa eficiência apresentada pelos inseticidas
sistêmicos aplicados no solo, preventivamente, produtos esses que praticamente
garantiam o controle dessa praga em anos anteriores. Aguarda-se que se
apresentem eficientes a partir de agora, em 2017, para que o controle do
bicho-mineiro volte ao normal na cafeicultura do cerrado mineiro.
Controle do bicho-mineiro
O controle do
bicho-mineiro é feito por etapas:
1a
etapa – aplicação em novembro do ano anterior (2016), no solo ou na água de
irrigação, de um inseticida sistêmico (controle preventivo do bicho-mineiro) e
de um fungicida também sistêmico (controle preventivo da doença ferrugem). Essa
aplicação num controle simultâneo da principal praga e da principal doença do
cafeeiro, é feita todos os anos pelos cafeicultores. O melhor inseticida é o
tiametoxam. Esta aplicação já foi realizada.
2a
etapa – aplicação complementar no mês de fevereiro do inseticida sistêmico
tiametoxam 250 WG, no solo ou na água de irrigação.Se
ocorrer algum veranico (estiagem prolongada) no início de 2017, com conseqüente
infestação do bicho-mineiro, antes ou após a aplicação do inseticida sistêmico
em fevereiro, realizar uma pulverização para controlá-lo, procurando-se zerar a
infestação dessa praga na folhagem dos cafeeiros, até que se aplique o
inseticida sistêmico em fevereiro, ou até que cubra os 30 dias para que o
inseticida sistêmico aplicado no solo ou na água de irrigação chegue através do
xilema (vasos condutores de seiva bruta) até as folhas e passe a atuar.
Em 2016, ano
passado, o início da infestação do bicho-mineiro na cafeicultura do cerrado
mineiro foi no final do mês de março/início do mês de abril, através da
emergência de adultos em grande número de crisálidas que estavam em diapausa.
Portanto, a pulverização mencionada deveria e foi realizada na época
mencionada.
Uma
boa eficiência de pulverização pode ser obtida com a mistura dos inseticidas
cartap 500 PS (1,0 Kg p.c./ha); spinosad 480 SC
(150 mL p.c./ha) e triflumuron 250 PM (300 g i.a./ha). Esta pulverização visa
matar ovos de bicho-mineiro na página superior das folhas (cartap), lagartinhas
do bicho-mineiro dentro das minas e evitar formar novas minas através delas
(cartap, spinosad e triflumuron). O inseticida cartap pode também matar adultos
(mariposinhas) do bicho-mineiro pela ação de contato, inclusive também o
spinosad. Evitar aplicar inseticida piretróide na mistura visando matar adultos
da praga. O spinosad pode ser substituído pelo clorantraniliprole 250 SC (160
mL p.c./ha) ou flubendiamida 480 SC (200 mL p.c./ha). Pulverizar evitando as
horas mais quentes do dia. Para evitar evaporação de gotas, adicionar óleo
emulsionável mineral a 0,5% (500 mL de óleo emulsionável/100 L de água).
Adicionar espalhante adesivo. Medir o pH da água e reduzi-lo para 5,5. Em
geral, o pH da água de pulverização (represas etc.) é de aproximadamente 7,0. O
ácido dicarboxílico Redutil, ácido forte, com duas carboxilas, é excelente para
reduzir o pH da água de pulverização. Bastam 8,3 g do produto/100 L de água
para reduzir o pH em 2,0 pontos, sem a necessidade de peagâmetro para medi-lo.
3a
etapa – o sucesso do controle do bicho-mineiro na cafeicultura do cerrado
mineiro dependerá da eficiência do inseticida sistêmico tiametoxam aplicado em
fevereiro. Se o tiametoxam for eficiente, o período de controle poderá ser de
90 a 100 dias, aproximadamente até maio. A partir de maio e até as floradas
(setembro/outubro), o controle será feito com pulverizações de inseticidas. Em
2016 o controle do bicho-mineiro na cafeicultura do cerrado mineiro foi muito
difícil devido à baixíssima eficiência apresentada pelo inseticida tiametoxam
aplicado em fevereiro, num curtíssimo e insuficiente período de controle, o que
requereu muitas pulverizações para controlá-lo, num ano quente e de poucas
chuvas, com algumas dessas pulverizações sem nenhuma eficiência. O resultado
foi a ocorrência de desfolhas pelo ataque do bicho-mineiro, possivelmente com
prejuízos na produtividade das lavouras além de o controle químico realizado
ter ficado oneroso, devido às muitas pulverizações realizadas.
Após
o período de controle do bicho-mineiro proporcionado pelo inseticida tiametoxam
aplicado em fevereiro, passar a monitorar sua infestação no terço superior dos
cafeeiros, local de início e de maior ataque. Quando a porcentagem de folhas
minadas for de 20% ou mais em 200 folhas coletadas aleatoriamente em cafeeiros
de cada talhão, separadamente talhão por talhão, pulverizar inseticidas em
mistura visando zerar novamente sua infestação, ou seja, matando todas as
lagartinhas do bicho-mineiro dentro das minas. Após o período de controle,
refazer o monitoramento e, a partir daí, as pulverizações serão realizadas em
função da presença de lagartinhas vivas da praga dentro das minas. A
pulverização pode ser feita com a mistura de diflubenzuron 800 WG (Dimilin)
(0,4 Kg p.c./ha), cartap 500 PS (1,0 Kg p.c./ha) e flubendiamida (Belt) ou clorantraniliprole
(Premio). O dimilin pode ser substituído pelo inseticida fisiológico novalurom
100 CE (300 mL p.c./ha).
Outras informações técnicas
1a – Os inseticidas
convencionais, como os fosforados e piretróides, não mais controlam o
bicho-mineiro na cafeicultura do cerrado mineiro, sendo possivelmente
resistência adquirida pela praga a eles, restando atualmente poucas opções.
2a – O inseticida Curyom
550 CE também apresenta baixa eficiência no controle do bicho-mineiro na
cafeicultura do cerrado mineiro, de clima quente. Já na cafeicultura do Sul de
Minas, de clima ameno, o Curyom 550 CE é muito eficiente, podendo ser aplicado.
A diferença entre as eficiências para o mesmo inseticida é, provavelmente,
devido as raças diferentes de bicho-mineiro desenvolvidas ao longo dos anos nas
duas regiões cafeeiras, sendo a do cerrado mineiro mais resistente aos
inseticidas, resistência essa genética, hereditária.
3a – Os inseticidas
fisiológicos mesmo não sendo altamente eficientes, são recomendados em mistura
com outros inseticidas por serem lagarticida, atuando por ingestão, nas ecdises
ou mudanças de pele. Esses inseticidas, anos atrás, já foram altamente
eficientes no controle do bicho-mineiro.
4a – O inseticida
clorantranliprole (Altacor) não deve ser aplicado em infestação alta de
bicho-mineiro, já que será ineficiente. Sua eficiência tem oscilado na
cafeicultura do cerrado mineiro, com muitos insucessos. Antes, era o melhor
inseticida, com um longo período de controle.
5a – Muitos
cafeicultores, por conta própria, estão substituindo o inseticida Altacor pelo
Premio, do mesmo ingrediente ativo clorantraniliprole. Afirmam que o Premio tem
se apresentado mais eficiente, embora não tenha registro para o cafeeiro.
Porém, o clorantraniliprole tem.
6a – Quem controlou a
broca-do-café com duas aplicações de rinaxipir (1,5 L p.c./ha), que também
controla o bicho-mineiro, terá teoricamente garantido um período de controle
dessa praga até o mês de julho. A partir daí e até as floradas, o controle
continuará sendo com pulverizações, com inseticidas já sugeridos,
dispensando-se a aplicação de tiamethoxam 250 WG em fevereiro. Como o rinaxipir
aplicado em pulverização no controle de broca é realizado em nível de talhões,
naqueles talhões onde não foi aplicado, usar o tiametoxam 250 WG em fevereiro,
normalmente.
7a – As chuvas que
ocorrem de março a junho, antes do período seco propriamente dito, podem ajudar
na amenização da infestação do bicho-mineiro.
8a – A irrigação por
aspersão, molhando a folhagem do cafeeiro, não ameniza as infestações de
bicho-mineiro.
9a – Independente do
vigor apresentado pelo cafeeiro, as folhas minadas pelas lagartas do
bicho-mineiro caem, queda induzida (provocada) pelas minas nas folhas no
aumento da síntese do hormônio vegetal etileno, responsável pela referida queda
(senescência) das folhas.
Fonte: Engº Agrº Dr. Júlio César de Souza
Entomologista - Pesquisador
Epamig Sul de Minas
Lavras MG